sábado, abril 11, 2009

BOLSAS: Adoooooooro!!!!















Dificilmente encontramos uma mulher desacompanhada de sua bolsa, até porque é acessório indispensável na composição do vestuário feminino. É mais, é companheira fiel e guardiãs de nossos mais íntimos segredos. Afinal, quem nunca ouviu falar coisas do tipo “numa bolsa de mulher cabe o mundo” ou “numa bolsa de mulher pode-se encontrar de tudo”.¹

Para a mulher, a bolsa é uma extensão dela mesma, por isso que, olhar o que tem dentro da bolsa de uma mulher, é como explorá-la sem pedir permissão. É uma falta irreparável!

Mas, nem por isso é um acessório totalmente feminino. Pode ser, essencialmente, feminino, mas divide com o universo masculino uma parcela de desejo. De uma forma mais prática que estética, mas não menos relevante; tanto é verdade que, desde quando foram criadas, as bolsas dividem o poderio entre os dois sexos. 

E, a bolsa fez seu debut nas passarelas fashion durante a Idade Média.² E, não obstante a revolução sofrida pela moda no decorrer destes séculos, ela conseguiu se manter primaz.

Durante o período medieval, elas se diferenciavam de masculinas e femininas; sendo que as primeiras eram maiores, feitas de couro e com o objetivo de carregar papéis e documentos; e as segundas serviram para armazenar rendas e materiais de costura. Algumas em especiais carregavam remédios, leques, tabaco, chaves, escovas de cabelo, e outras, especialmente, os livros de oração (as bolsas relicários).

E, seja na Idade Média, no período gótico, na Renascença, ou em qualquer outro período da história, a bolsa foi bastante usada, inclusive, apresentando diferenciais quanto ao seu uso. Os cruzados, por exemplo, as usaram no decorrer de vários séculos como depositário de moedas para os pobres.

Portanto, desde sua criação, ela tem sido usada por homens e mulheres e também recebido os mais variados nomes, de acordo com o modelo adotado e a época. Desde bolsa até saco, sacola, pochette, bolso, carteira e retícula, entre outros nomes.

As pochettes, pequenas e chatas, eram usadas rentes à cintura; os sacos, maiores e suspenso por longos cordões, muitas vezes chegavam abaixo dos joelhos. E, observe que, estas duas variantes das bolsas fizeram muito sucesso durante o século XV, tanto que a cidade de Coen, no noroeste da França, destacou-se pela qualidade na produção destes sacos e pochettes, também conhecidas como tasques. Elas eram feitas com esmero, no mais fino veludo da época, de cores variadas e bordados elaborados com brasões.

Com a demanda por bolsas cada vez maiores, no século XVI, passa-se a ter uma sociedade especializada na confecção destes itens tão valorosos, que se espalha rapidamente por toda a Europa. Nesta época, surgem os pockets, peças de uso feminino, e que também ficaram conhecidas por poket, pucket, poke e palke.

Eles eram confeccionados em linho, algodão, lona, flanela e outros materiais, com o formato dos bolsos atuais, em pares, ligados por fitas ou cordões que se prendiam sob as saias e anáguas. O fato de não ficarem visíveis impediu uma elaboração mais sofisticada da peça.

Entretanto, Alice Morse Earle, no seu livro Costume of Colonial Times, discorda de tal assertiva, dizendo: “estes bolsos eram bolsas ornamentais, as quais eram presas na parte de fora das saias”;³ ainda, afirmando que eram decoradas com ponto de cruz sobre lona e canutilhos e contas sobre veludo. Pensando desta forma, faz até algum sentido, porque trabalhos tão bem elaborados, certamente, não seriam confeccionados apenas para brilharem debaixo de saias.

A partir do século XVII, a revolução sofrida nas roupas faz com que os bolsos (as bolsas) fossem adicionados em grande quantidade ao vestuário masculino; e no feminino, faz com que aumentassem consideravelmente de tamanho, a ponto de ficarem bem profundos. Nesta época, as pessoas carregavam as coisas mais bizarras em seus bolsos, desde sais de cheiro, bebidas, leques, espelhos, e uma infinidade de outras coisas impensáveis.

Fato curioso é que estes bolsos presos à roupagem, tanto feminina quanto masculina, não eram usados para carregar dinheiro. Para este fim específico, tinham o pocketbook ou bolso de livro. Era uma peça retangular e chata, na forma de um envelope, que se carregava na mão.

Já no século XVIII, estas bolsas feitas, especialmente, para guardar dinheiro, passaram a ser chamadas de miser’s purse, ou seja, bolsas da miséria. Eram confeccionadas nos mais diversos materiais, desde tricô, tecidos em fios de seda, com detalhes ou lisas, enfim, independente dos enfeites e material utilizado, sendo usadas por homens e mulheres; e um detalhe importante: sua abertura se dava no meio dela.

Existia também um receptáculo chamado almoner, ou saco de alms que tinha como único objetivo carregar oferendas aos pobres. O seu detentor era o oficial de alta patente, responsável pela distribuição de comida, roupas, dinheiro, etc. Com o passar dos tempos, este tipo de bolsa passa a ser conhecido pelo nome de aumôniére ou amôniére.

No transcorrer dos anos, as pessoas passaram a guardar de um tudo dentro dos bolsos, e isto, afetou muito a estética das roupas; uma vez que, o exagero de objetos carregados criava protuberâncias e saliências que, além de incômodas, eram desagradáveis aos olhos, afetando principalmente a silhueta feminina.

No século seguinte, então, isto viria a se tornar um problema, se antes não tivesse sido solucionado, já que os vestidos marcavam muito, alinhando o corpo da mulher de forma a não permitir bolsos carregados de quinquilharias. Para isto, surgiu a retícula, que era carregada na mão, apesar de algumas mulheres, ainda, insistirem em prendê-las na cintura.

As retículas, chamadas há época de pailettes, eram bolsas em forma de saco, fechadas por cordões que franzindo a mesma, formava uma pequena alça. Apareceram de diferentes materiais: veludo, rede de aço, cetim, crina de cavalo, sarcenet, etc, sempre muito trabalhadas em bordados, miçangas e lantejoulas.

As retículas causaram tanto frisson, que em 1803, um jornal inglês chegou mesmo a emitir uma nota a respeito, em que dizia: “Enquanto os homens carregam suas mãos em seus grandes bolsos, as damas têm bolsos para carregar em suas mãos”; e em 1807, uma publicação de moda francesa comentou: “As ‘indispensáveis’ ainda estão na moda e na mesma cor dos vestidos”.6

E, desta maneira, as retículas permaneceram na moda até, por volta de 1860 a 1870, até porque ao longo destes anos, a moda, numa transformação constante, pedia bolsas que não marcassem o corpo, já que eram, definitivamente, tão marcados pela silhueta exigida na época.

A partir de 1880 passou-se a usar as chatelaines, pequenas e delicadas bolsas criadas a partir de uma estética medieval; usadas penduradas na cintura, favorecendo sua estrutura minúscula, o que na época era um charme. Estas bolsas surgiram através da princesa dinamarquesa Alexandra, nessa época futura esposa de Edward VII da Grã-Bretanha, considerada uma líder de opinião dentro da moda.

A bolsa com armação de metal com dobradiças laterais e fecho surgiu por volta de 1880, e causou verdadeiro pandemônio; afinal, já não era necessário abrir a bolsa sem desfazer a sua forma. Surgiram os mais variados modelos, bordadas e confeccionadas nos mais diversos moldes e tecidos, podendo a alça apresentar também vários mimos diferentes, desde gravações, filigranas ou pedrarias.

 

A partir destas surgiram inúmeras outras, como por exemplo, as bolsas souvenir, indicadas para guardar gentilezas e lembranças, muito difundidas e também a luxuosa porta moedas, feito em conchas bivalve, decorada com pinturas de flores e inscrições sentimentais. E, note-se que, sem dúvida, a era vitoriana, que marcou este período, contribuiu de maneira significativa na estética das bolsas, principalmente, deste final de século XIX.

 

Neste século, inclusive, qual seja, o século XIX, as bolsas permaneceram mais ou menos iguais; variando muito pouco, seja de tamanho ou formato. No entanto, a partir de então, a moda das bolsas começa a sofrer uma revolução, marcada pela industrialização e principalmente, pelas novas idéias que surgiram, trazendo grandes variedades.

A crescente importação de materiais permitiu o feitio de bolsas nas mais variadas peles de animais, seja de foca, jacaré, bezerro, répteis e por aí vai. Começou, também, a surgir usos específicos para elas: bolsa passeio, para ópera, de noite, etc.

O século XX tornou-se o século das bolsas, a consagração de uma idéia, que definiria o estreitamento da peça com seus mais diversos admiradores, e mais, com o seu mais novo estilo de vida. Afinal, a modernidade que facilitava a locomoção, não só de pessoas como de mercadorias, a participação da mulher na vida cotidiana, sua entrada no mercado de trabalho, a invenção do automóvel, tudo isso, tornava a bolsa um acessório cobiçado e útil.

 Nas três primeiras décadas do século XX, as bolsas deixaram de ter apenas importância como acessório de carga, onde seu destino era guardar os mais variados objetos, para se tornar um acessório da moda. A bolsa passava a compor a estética da roupa feminina, fazendo surgir uma infinidade de modelos.

A bolsa começava a acompanhar as roupas, seguindo o padrão apresentado pelas coleções. Os grandes estilistas, como Coco Chanel, ajudavam a fazer da bolsa, um artigo de desejo e sucesso. Inclusive, as bolsas com alças de correntes foi uma aposta da estilista que deu certo.

Além do mais, o final da década de 20 e início da de 30, contribuiu também para o sucesso das bolsas que ficavam dependuradas no punho; e, sempre muito cheias de fricotes: plumas, paetês, pérolas, cristais, etc. Afinal, como as roupas, as bolsas pedem ousadia.

E a cada nova década, as bolsas foram apostando cada vez mais em materiais diversificados e ricos em detalhes. Muitas delas, neste começo do século pareciam verdadeiras obras-primas, tal o seu acabamento, estética, design e mão-de-obra especializada.

Durante a década de 40, 50 e 60, as bolsas diversificaram e mudaram de tamanho, formato e material inúmeras vezes. Vários modelos invadem o visual das mulheres; bolsas de: alças, mão, grandes, pequenas, lisas, estampadas, bordadas, pintadas...

Os anos 70 trouxeram a inspiração hippie e punk tornando-as mais coloridas, feitas de vários materiais diferentes, como: crochê, ráfia, de linha no tear, de tecido e de couro, com aplicações de tachinhas, correntes, cordões, ilhoses; enfim, uma infinidade de materiais, modelos e cores.

Na década de 80 o universo das bolsas tomou os mais variados rumos, desde o estilo colorido que a moda da época pedia, até a inclusão de bolsas feitas com referência ao espírito esportivo, este muito difundido. As grandes marcas de produtos esportivos apostaram neste novo filão e começaram a investir em bolsas que podiam ser levadas da academia de ginástica ao supermercado, do trabalho ao cinema e, às vezes, por que não, que podiam ir mais longe, acompanhando as mulheres na famosa “esticadela” noturna.

A partir de então, as bolsas passaram a fazer parte do universo feminino, a tal ponto que hoje é impossível viver sem elas. E, a variedade de modelos tornou-se tão grande que existem opções para todos os gostos, estilos e bolsos. Seja de tecido, couro, material sintético ou natural, básicas ou coloridas, clássicas ou irreverentes, de uso diário ou em ocasiões especiais, não importa, elas estão presentes em todos os looks; ganharam notoriedade, poder e exclusividade. Nenhum visual, por mais completo que pareça, consegue resistir a uma bela bolsa.

Assim, afirme-se que, a partir de 1900 as bolsas se tornaram indispensáveis às mulheres, e, de lá para cá, tornou-se um objeto de desejo insubstituível. A evolução da moda contribuiu para a reestruturação de modelos, o surgimento de novos materiais, mas, sem nunca deixar de fazer parte ativa da vida das pessoas, principalmente das mulheres.

A cada nova estação, uma infinidade de novos modelos aparece no mercado, fervilhado por um sem número de consumidoras afoitas por novidade.

E uma coisa é certa neste universo das bolsas; esta é uma escolha pessoal de cada mulher, de acordo com seus padrões e anseios. Por esta razão, a bolsa se tornou um meio valioso de se conhecer a pessoa a qual é sua detentora, sua imagem e expectativas. A bolsa é um retrato peculiar do cotidiano e suas aspirações diante do mundo. Mais que um objeto de moda, é além de tudo, um acessório psicológico de vital importância para a composição da identidade de cada um.

Portanto, desde sua criação, a bolsa representa a estética de cada época diferente e a personalidade de quem nela viveu. Talvez, por isso, tenha evoluído de maneira a diferenciar as vivências do cotidiano e a retratar as situações de acordo com cada um de seus modelos em particular.

Pois veja: a entrada da mulher no campo de trabalho, e a aceitação do homem moderno quanto à facilidade da bolsa em seu universo foi decisiva para que elas apresentassem modelagens confortáveis, que também suportassem uma grande quantidade de supérfluos e se encaixassem nos mais diferentes padrões de roupas; ou seja, foi o elemento chave que faltava para ampliar este filão e aumentar sua variedade.

Quando se pensa em trabalho, pensa-se em bolsas que coordenem qualquer produção, que seja utilitária e combinem com os sapatos, senão corre-se o risco de pecar no quesito final: o do conjunto.

Fora do ambiente de trabalho, no entanto, pode-se abusar das cores fortes e dos modelos diferentes. Apesar de que, é sempre bom ter uma mais básica ao alcance para não errar jamais. As cores foram ao longo dos anos a coqueluche das bolsas, podendo-se fabricá-la nas mais variadas e impensáveis tonalidades; podendo-se também enfeitá-las dos mais variados objetos; além das famosas referências aos bichos, como zebra, cobra, onça, etc.

Enfim, pode-se tudo quando se tem uma bolsa poderosa à mão. Pode-se e deve-se colocar meio mundo dentro dela; e, a outra metade dá perfeitamente para você abraçar sem problemas...